terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Evo Morales reeleito

Por Pablo Stefanoni – diretor do Le Monde Diplomatique, edição boliviana
A esmagadora reeleição de Evo Morales – com mais de 63% dos votos – reconfigura por completo o campo político boliviano. Pela primeira vez desde os tempos da Revolução Nacional de 1952, um partido consegue uma hegemonia tão ampla, controla ambas as Câmaras Legislativas e, com isso, tem a possibilidade de incidir na conformação do Poder Judicial. A chamada “Meia Lua” se desarticulou como opção de resistência regionalizada ao projeto nacional encarnado por Evo Morales, a oposição político-parlamentar constitui um espaço fragmentado e sem lideranças coesionadoras, incapaz de ler a realidade nacional e a influência política do Movimento ao Socialismo (MAS) se estende até as regiões orientais autonomistas.
A combinação entre o evismo (como horizonte identitário) e os pactos coorporativos/territoriais que – como disse Evo Morales – permitiram que nenhum setor ficasse sem candidatura (pelo MAS), conforma uma força política invencível, pelo menos enquanto subsistam estas duas dimensões mencionadas. Frente a isso, os analistas opositores lançam mão das velhas teorias anti-populistas, que explicam o sucedido por um mistura de demagogia caudilhista, manipulação de massas e uso arbitrário do Estado na campanha eleitoral, colocando em dúvida, inclusive, a legitimidade do triunfo com esse inocultável caráter de preconceito de classe, que aos “anti-populistas” custa tanto ocultar.

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